terça-feira, 21 de setembro de 2010

Canudinhos de refrigerante e divisão celular

Pesquisa testa método que utiliza modelos práticos para facilitar a aprendizagem. Alunos do Ensino Médio melhoraram a compreensão

Cromossomos, cromatina, centrômero, centríolo. Os termos são capazes de dar um nó mesmo na cabeça de muitos adultos. Que dirá na de jovens que têm que aprender ainda no ensino médio os conceitos abstratos da divisão celular – fenômeno que ocorre quando as células se dividem e repartem o seu material genético. A pesquisadora Cleonice Miguez, mestre em Ensino de Ciências pela UnB, descobriu uma forma mais eficaz de ensinar a matéria.

Cleonice partiu de uma ideia simples. “Um dos meus alunos estava com uma dificuldade enorme de entender o assunto. Fui à cantina e peguei canudos para ilustrar a explicação, a partir daí ele começou a compreender”, conta Cleonice, que dava aulas de Biologia numa escola particular. “Utilizamos os canudos para representar os cromossomos, que são moléculas inteiras de DNA”, explica. Toda célula humana tem 46 cromossomos que se duplicam para formar duas novas células.

Os alunos recriaram todo esse processo usando canudos vermelhos, para os cromossomos herdados da mãe, e azuis, para os que vieram do pai. Em uma das práticas, dois alunos ficam de frente um para outro, sentados em carteiras. Em cima das mesas existem 8 canudinhos, amarrados em pares, cada um deles formando um “X”. O conjunto forma uma célula pronta para divisão, com os cromossomos duplicados.

Para fazer a divisão celular, cada membro da dupla puxa um canudinho amarrado a outro, separando-os. No conjunto, as duas carteiras separam-se, com as metades dos cromossomos duplicados – as cromátides. Nas duas vê-se 4 canudos, 2 paternos e 2 maternos (veja infográfico).

O método dos canudinhos foi aplicado em uma turma de 23 alunos de um curso supletivo de ensino médio, em uma escola pública. Para avaliar os resultados, Cleonice realizou testes antes e depois da experiência. Além disso, dez alunos foram entrevistados e todas as aulas foram filmadas. Todos assinaram termos de consentimento para participar da pesquisa, que foi aprovada em Comissão de Ética da UnB.

Metodologia

Os testes revelaram uma melhoria na compreensão dos alunos”, conta Cleonice. Segunda ela, as dificuldades que surgiram foram naturais, levando em conta as deficiências do ensino público. “Surpreendeu a forma como eles compreenderam o tema”.
Os vídeos, por sua vez, foram usados para identificar alterações na dinâmica das aulas. “Percebemos que os alunos ficaram mais participativos. Muitas vezes eles adiantavam-se às perguntas da professora”, afirma Cleonice. “Já nas entrevistas, propusemos que os alunos explicassem um caso específico: a síndrome de Down”.

Segundo a pesquisadora, a deficiência surge de um erro na divisão celular, que resulta num número maior de cromossomos na célula. “Estimulamos os alunos a tentar explicar por que isso acontece”. Todos conseguiram responder satisfatoriamente a pelo menos 3 das 4 perguntas. “Isso demonstra a capacidade de aplicar o conhecimento em situações diferenciadas, o que mostra que eles de fato aprenderam”.

Aplicação

Cleonice destaca que a pesquisa sinaliza novos caminhos para o ensino de ciências. “São métodos baratos e de fácil aplicação. Além disso, tira o aluno da posição de espectador, já que ele mesmo pode reproduzir as fases da divisão celular”, afirma. A dissertação foi orientada pela professora Maria Luiza Gastal, do Núcleo de Educação Científica e co-orientada pela professora Louise Brandes, do curso de Licenciatura em Ciências Naturais da UnB.

Louise chamou atenção ainda para as características da turma. “Era curso supletivo com pessoas de várias idades, muitos vieram de várias reprovações. Mesmo assim os resultados surpreenderam”, elogia. Cleonice acredita que isso é uma alternativa a mais para os professores. “O conhecimento científico não é pronto e fechado, mas é um processo em constante construção. A experiência com os canudinhos ajuda-os a perceberem isso”.

Fonte – UNB

revistapontocom

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